domingo, 15 de junho de 2008

Parte 2


Como gostava de passear naquela praça aos domingos, tinha até seu banco preferido, e odiava quando chegava lá e aqueles velhinhos haviam chegado primeiro e dominado o banco com assuntos que iam de doenças â URSS. Como gostavam de falar do regime comunista, mas as vertentes agora eram outras, como diria um amigo meu "comunismo is last week". Se identificava com os velhinhos, desejava ter uma terceira idade pacifica, por isso tinha decido parar de fumar quando estivesse perto dos quarenta, tinha garantido mais quinze anos de tabagismo. Quando tinha o banco só para si, sempre levava algum livro e seu inseparável mp3, o banco proporcionava uma visão panorâmica da praça, dava pra ver quase que por inteira, até mesmo do outro lado. Ficar ali lendo era seu passatempo nas manhãs de domingo, o trabalho tinha feito com que se acostumasse a acordar cedo mesmo aos domingos, sentia muita falta da época que trocava literalmente o dia pela noite. Por ali passavam muitas famílias aos domingos de manhã, era caminho da igreja, e se tem um costume que nunca muda na sociedade é ir as missas domingo de manhã. Ficar ali sentado, observando as famílias indo e vindo, tinha um certo gosto amargo, sentia falta de ter uma família, mas optara por não te-la. Toda escolha tem seu preço a ser pago, o preço pago pela escolha dele foi a solidão, mas não se queixava nunca, na realidade nunca pensava no assunto, só aos domingos de manhã, quando observava aquelas pessoas juntas, sempre um homem mais velho e bem vestido, uma mulher de meia idade que corrigia tudo que as crianças faziam, é sempre a mesma cena, mudando apenas os personagens. Sabia desde sempre que não tinha nascido para aquilo, então não tinha nenhum porquê de sentir inveja, mesmo assim, às vezes ela vinha, mas logo afastava-a voltando a prestar atenção no seu livro. Gostava de refletir ali sentado, passou por alguns maus bocados, mas conseguira ter aquilo que sempre desejou, um apartamento simples que desse para acomoda-lo junto com seus livros, cd's, filmes, um emprego razoável, não era aquilo que sonhara ser, mas dava para pagar as contas, e pensando bem é meio perigoso trabalhar naquilo que você tanto deseja e sente prazer, pode cair na monotonia e assim acabar com a paixão, é bom deixar as paixões como hobby e não como trabalho, pelo menos pensava assim. Seu grupo de amigos tinha sofrido algumas alterações desde os tempos áureos, certas escolhas fazem com que as pessoas se afastem umas das outras, mas é sensato pensar se a escolha feita vale realmente o preço a ser pago. Se encontravam as quartas e sábados à noite, grupo de quatro as vezes cinco, bebidas, cigarros, risadas, lembranças, discussões politico-filosóficas, musica, não mudara muita coisa. Tinha aquilo que tanto sonhara, mas mesmo assim o vácuo existencial era presente, mas fazia alguns anos que havia aprendido a conviver com ele, então não fazia menor diferença.
Voltava sempre para casa um pouco antes do meio-dia, chegando no apartamento comia algo, se dirigia ao computador e achava alguma musica variada, Album Leaf era sempre uma das bandas mais tocadas, foi em direção a janela e acendeu seu cigarro, olhou o ponto de ônibus e lembrou do casal de ontem, aquela lembrança de certa forma trouxe uma sensação de enjoo, desviou o olhar e tentou pensar em outra coisa, odiava aquela sensação.

Um comentário:

@ingasl disse...

iinga . diz:
me deixou com vontade de praça, ><