sexta-feira, 13 de junho de 2008

Parte 1


Sábado chuvoso e tedioso, nada como acordar as duas horas da tarde e encher a caneca de café, ir até a janela e observar a chuva caindo. A rua semi deserta, a não ser pelo casal que se esconde em baixo do ponto de ônibus, ele alto e magro, cabelos curtos e jaqueta jeans, ela um pouco mais baixa que ele, morena com cabelos até os ombros, pelo que posso perceber parece ser mais jovem que ele, como manda a regra. Não sei o motivo, mas fico ali parado observando eles, pelos seus gestos de carinho e brincadeiras, mesmo naquela chuva, chego a apostar que estão juntos a pouco tempo, estão vivendo a fase do encantamento, onde tudo aquilo que o outro faz é maguinifico, onde ela ri das piadas sem graça dele, e ele acha divertido a ingenuidade dela perante certos assuntos. Me viro novamente para meu apartamento e percebo que está bem bagunçado, a diarista só quem na sexta, tenho que sobreviver até lá em meio a tantos papeis e jornais espalhados pela casa, tendo me distrair na minha prateleira de livros o único lugar organizado da casa, todos meus exemplares estão separados por autor, puxo um dos meus preferidos A Idade da Razão, deixei marcada a minha passagem preferida dessa obra de arte, abro, leio e recoloco no lugar. Não sei porque mas volto a sondar o casal, agora vejo que eles estão abraçados, ela com cabeça encostada no peito dele enquanto o rapaz fica acariciando o cabelo dela. Começo a imaginar quando aquilo irá acabar, quando os gestos de carinho e afeto entre eles se tornarão raros e incomuns, o dia que as juras de amor irão morrer e todo o mistério desaparer, sobrando apenas uma transparência fria.
Voui até o pc, estava ligado, sempre está ligado, busquei por Mogwai, não sei porque, mais tive uma extrema necessidade de ouvir Mogwai aquele momento, sentei na minha poltrona e comecei a observar minha parede cheia de fotos e posters. A chuva, a musica, o clima e aquele casal que não saia da minha cabeça, sentado ali me vi projectando um futuro para eles, onde o cotidiano aos poucos iria consumir a chama que estava ali tão visível, tão forte mesmo naquela chuva. Mas seria a culpa do cotidiano ou das pessoas? Será que somente amamos aquilo que é novo para nós aquilo que é misterioso, que nos chama a atenção, nos intriga. Enquanto aquilo que passa a fazer parte do dia-a-dia se torna descartável, descartável até perdemos é claro!
Enfim, auto rock acaba de terminar, levanto e me direcciono até a mesinha onde deixei minha carteira de cigarros, se tem algo que não entendo em mim foi o fato de começar a fumar tarde, mas desprezo logo esse pensamento, acendo um deles e ando em direção a janela, o casal não está mais ali, o ônibus deve ter passado. Desisto do casal, volto a pensar em mim, no que farei hoje, no que comer, no beber, Acid Food começa a tocar, vou até a cozinha procurar algo para comer, e contemplar a escolha que eu fiz, da qual o casal abdicou, a escolha de ser livre.

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