quarta-feira, 1 de maio de 2013

Suck it and See

Existe um atraso mental e até considerado retrógado, onde o homem à séculos tenta impor vontades pessoais, particulares e genéticas mascarando-as com a forma mais bela de algo chamado por ele de dogmas, religiões e políticas. Considero isso algo tão baixo e ridículo a ponto de pensar que é inocência, inocência que para mim em uma escala de sentimentos tem um grau mais baixo do que a famosa “malandragem” ou egoísmo, prefiro acreditar que seja assim. Quando esse ser pensante e dominante das ciências e criações do mundo descobrir, ou indo contra aquilo que prefiro acreditar, assumir que dogmas e conceitos múltiplos não existem, ou seja, quando assumir toda sua animalidade e toda a força exercida por ela sobre o que ele chama de conceito e vida, e admitir que cada ato seu é em prol de si mesmo primeiramente, e em seguida da existência da sua espécie e do interesse do grupo, seita, religião, movimento ao qual ele participa ou é simpatizante, tal ser irá perceber que a luta é a real força que alimenta a existência do mesmo até os dias atuais. Defender seus valores, suas crenças e seus direitos é fácil, defender e aceitar em um mundo onde todos supostamente deveriam ter os mesmos direitos e deveres, extinguir o preconceito, não só na pratica como no pensamento também, ou seja, quando todos andarem pelas ruas sem se preocupar com diferenças ou injustiças, sem julgar ou serem julgados, quando descobrirem o real significado da palavra PAZ, nesse dia cagarei no meio da rua feliz da vida, como sei que isso é utópico e contra todas as provas empíricas da natureza humana minha merda continuará se acumulando dentro do meu estomago até ser defecada de maneira nobre em algum sanitário do mundo.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Manhã

Ao acordar não sabia mais que dia era, ano ou mês, deixou de perceber essas mudanças triviais aceitas pela colméia como maneira de controle de tempo e espaço, contava seu tempo e espaço pelo sono raro. Para os dias que conseguia dormir com a ajuda do alcool tinha ali uma vitoria particular, sabia que o sono e cansaço tinham vencido a ideia de abandono fisico da realidade, pois o abandono consciente já era presente há tempos, assim como as estrelas são presentes para a noite e os pássaros para as manhãs. Sua caverna tinha o cheiro do mofo e da falta de ventilação, quem precisa de ar fresco? Quem precisa de luz do sol entrando pelas janelas? Quem tem necessidade quase que paranóica pelo aroma trazido pelo vento das plantas que estão lá fora? Preferia o cheiro abafado mesclando sutilmente suor, cigarro, o cheiro que vinha das latas vazias de bebida, da sujeira intrusa que vinha em seus sapatos das raras vezes que resolvia sair e ver as engrenagens rodando caoticamente equilibradas. Pegou mais um cigarro da carteira levemente amassa no meio, puxou e acendeu com seu isqueiro pequeno e vermelho quase em tempos de ser substituído, interessante saber que somos como isqueiros ou copos, pratos, tapetes, temos um tempo de utilidade para todas as coisas que fazemos e quando esse tempo espira rapidamente somos substituídos por algo mais novo, mais atual, mais encantador. Ao entrar na cozinha logo percebeu que não poderia adiar a limpeza da sua pia, os copos e talheres limpos já não existiam, tudo estava sujo com pedaços de massas ainda cobertos com a cor avermelhada do molho de tomate, abriu a geladeira e uma luz forte partiu de dentro dela iluminando o quase vazio, alguns recipientes coloriam minimalisticamente o interior gelado. Pegou uma garrafa de água para saciar a sede presenteada pela ressaca, a manhã após uma ressaca sempre foi subestimada, sempre lembramos de noites épicas ao embalo do álcool, ou no meu caso de como o álcool espantou a solidão permitindo-me um falso instante de alegria na minha própria companhia, mas nunca lembramos daquelas manhãs quando acordamos com o corpo dolorido, boca seca, dores e mais dores de cabeça, nunca lembramos da fragilidade do corpo e do ato singular de tomar conta de si mesmo em casos assim. Manhãs sempre são bonitas, temos os pássaros, o sol nascendo e pela janela podemos ver a colméia iniciando seu dia de trabalho, podemos ver as maquinas sendo ligadas para mais um dia, a certeza é que cada um na noite anterior teve sua dose de algo entorpecente, do contrario não teriam forças para agüentar mais um dia, sabemos que um por um todos usamos algo para evitar o ato de desconectar-se definitivamente, cada qual com sua fonte de energia e sua fuga espírito/corporal, acordamos para manter o equilíbrio do cosmo, fecha a garrafa d’água e volta a se deitar.