quinta-feira, 12 de junho de 2008

I Could Be Dreaming


Era um domingo qualquer, aquele domingo quando você acorda mais tarde e toma café com sossego, e esse gosto de domingo, sempre trás aquela lembrança, a mesma lembrança, de quando domingo era o dia escolhido por eles, para aquele passeio com muito verde, céu azul e nuvens, muitas nuvens. Se encontravam sempre no mesmo lugar, na frente da loja que ficava ao lado da lanchonete mais movimentada da cidade. Não sabiam porque, mas aquele lugar tinha se tornado para eles um lugar sagrado, e todos seus encontros eram ali. Ela sempre chegava primeiro, sentava no meio fio e ficava ali esperando, de minuto em minuto ela olhava para a esquina de onde ele sempre vinha. Quando ele dobrava a rua e apontava na frente do ponto de ônibus, ela disfarçava que não estava olhando e começava a brincar com qualquer coisa que estava ali no chão, ele sabia disso e ria sozinho. Logo que chegava perto dela, ele se sentava e colocava as mãos para trás se apoiando na calçada, e falava qualquer coisa idiota, ela adorava as coisas idiotas que ele falava, e ele sabia disso. Levantavam juntos, ela colocava suas coisas na mochila dele, e então seguiam seu destino. Ela se pendurava em seus braços, seus magrelos braços, e ele fazia brincadeiras com o peso dela, que ela odiava muito, mas não ligava nenhum pouco. Quando chegavam no seu "refugio", tinham o costume de chamar o jardim de refugio, logo saiam correndo até a àrvore de costume. Como ele era maior, sempre ganhava na corrida, e ela ficava para trás gritando e rindo, até ele parar para pegar fôlego, o habito do tabaco tinha lhe custado isso, então ela chegava com tudo e pulava em suas costas. Deitados em baixo da árvore começavam as conversas mais surreais que um casal poderia ter, coisas do tipo animais silvestres de estimação, as ofensas que ela iria usar contra as fãs dele, caso a banda dele ficasse famosa, dublagem de pessoas que estavam longe, nomes para os pássaros que ali passavam, quem venceria em um duelo entre o batman e homem-aranha, conversas sem nexo algum, mas que para eles era a melhor coisa do mundo. Quando o silencio chegava, por incrível que pareça ele chegava, ele deitava no colo dela e ficava olhando as nuvens, as nuvens signicavam muito para eles. Ali olhando as nuvens, o tempo desaparecia, ela ficava brincando com seu cabelo e observando o rosto concentrado dele tentando achar uma forma adequada para a nuvem mais próxima, sempre ele falava algo que não se encaixava, e ela dava um murrinho na testa dele, e ele ficava sem jeito, com cara de idiota, e ela adorava isso. Após comerem, eles seguiam em frente, gostavam de passar na igrejinha antes de voltarem embora, ficavam ali sentados na frente, assistindo o por do sol, era o momento preferido dela, sempre segurava a mão dele muito forte, encostava a sua cabeça no ombro dele e ficava olhando, momento perfeito que ele sempre estraga com algum comentário bem sem graça, que ela logo reprovava com um olhar bravo e boca contraída formando um biquinho, ele entendia aquela expressão e se calava na hora, então ela se voltava para o por do sol e continuava a contemplar seu momento perfeito. Na volta para casa, ela sempre pegava uma folha seca do chão, tinha varias folhas secas em casa, de todos os domingos, contava o tempo não por dias, nem por horas, mas sim por folhas, porque o tempo realmente importava ali, naqueles encontros de domingo a tarde. Os últimos momentos do dia eram sempre os mais tristes, ele se fechava e não falava nada, ela sentia isso e tentava anima-lo, mas ela também estava triste então logo desistia, então se abraçavam forte e seguiam quietos no começo da noite. Quando chegavam ao lugar de encontro que também era onde diziam adeus, ela subia no meio fio e se pendurava nele, trocavam beijos, carinhos e jurinhas de parzinhos, até chegar a hora triste, hora de partir, quando ele dava um ultimo abraço nela, e a troca de olhares, troca de olhares que nunca mente e que diz tudo. Ele pegava sua mochila, e ia embora, ela ficava ali observando ele dobrar a esquina novamente, com coração apertado, quando via que ele tinha desaparecido por completo, então ia embora, com lembranças, saudades e sua mais nova folha seca em mãos, mais uma para colocar junto com as outras, mais uma folha que servia de lembrança de dias perfeitos, dias vividos e dias sentidos.

Um comentário:

@ingasl disse...

nossa, viajei nisso, sééério, sabe né, forever esses sonhozinhos *----*