sábado, 23 de fevereiro de 2008

Eu me lembro muito bem!

Dia desses na rodoviária, Sebastian avistou de longe uma velha paixão colegial, na verdade sua primeira paixão. Logo ao bater os olhos naquela mulher, reconheceu sua primeira amada, e uma nostalgia logo sentiu. Ficou em duvida se chegava conversar com ela, afinal se passaram 15 anos desde a quarta série, talvez ela nem se lembre mais dele, das cartas que ele enviou para ela, dos olhares tímidos e sem jeito que eles trocavam no recreio, ou muito menos da desculpa esfarrapada que ele inventou para chegar falar com ela. Ali inerte, Sebastian tentava arrumar coragem não sabia da onde, desejou naquele momento que em vez de venderem coxinhas extremamente gordurosas naquela lanchonete da rodoviária, vendessem licor de coragem (se é que isso existia).
Após alguns minutos de vou ou não vou, resolveu que iria falar com ela, com Jaqueline, como esse nome soava bem, estava mais linda do que nunca, loira, olhos verdes, magra, sorriso mais lindo que já tinha visto, ainda tinha as mesmas características de garotinha do colegial toda meiga. Quando deu o primeiro passo em direcção à ela, algo gelou completamente seu estômago, o quê ele iria falar para ela? Lembrou então que tinha as três cartinhas dela até hoje, que às vezes em madrugadas solitárias, mexendo aqui e ali nas suas tralhas que guardava em caixas, ele se deparava com as cartinhas e relia, e sentia a mesma emoção, o mesmo frio na barriga de quando recebeu elas pela primeira vez, e junto com as cartas estava o chaveiro que ele tinha roubado dela no portão de entrada do colégio, guardava isso tudo com todo carinho e a sete chaves, eram lembranças inigualáveis para ele. Também pensou em perguntar sobre a Janaina, afinal de contas foi a Janaina que apresentou os dois e serviu de pombo correio a maior parte do tempo, lembra até hoje quando Janaina, que é prima dela, veio falar com ele que a Jaqueline achava ele o menino mais bonito da sala 7, para ele isso foi um espanto, nunca ninguém tinha dito algo semelhante para ele, sem ser da família, nesse momento se sentiu feliz, foi a primeira vez que teve o ego massageado por um elogio vindo de uma garota, uma garota linda ainda por cima, não que o elogio de garotas menos lindas não seja bom, mas elogios de garotas lindas são especiais sim, me perdoem a sinceridade.
De cara erguida e peito aberto foi indo em direção a Jaqueline, que estava com uma mala nas mãos, usando um belo casaco verde, como verde combina com ela, pensou Sebastian. Terminando seu quarto passo, ele parou, lembrou-se da maneira como tudo tinha acabado, na época ambos moravam numa cidade do interior, que tinha um cheiro horrível por causa de uma fabrica de papel e celulose, que gerava boa parte dos empregos da cidade. Por serem ambos inexperientes na arte do amor, não que isso tenha mudado em muita coisa para ele, ficaram se enrolando mais de meio ano, cartas que eram trocadas e algumas conversas no curto recreio da escola, estava indo tudo bem, ao passo de tartaruga, até que Sebastian teve que se mudar para outra cidade, isso tudo minou o namorico deles, teve uma despedida triste, com um abraço e nenhum beijo. Bem, 15 anos se passaram, e se ela se casou? E se encontrou o homem da sua vida? Logo riu sozinho e repetiu para si mesmo:
— Deixa de ser burro Sebastian, você vai dar um Oi para ela, e não pedi-la em casamento!
Então acelerou seus passos e abordou sua platónica paixão de infância:
Oi!
—olá?! Nos conhecemos?
— Sim! Da quarta série, da escola Marechal Arthur, eu era da sala da sua prima Jaqueline!
— Ah sim!! Você era o garotinho que trocava cartinhas comigo!
— Eu mesmo!
— Você mudou um pouco, na época não usava óculos.
— Pois é, a miopia veio com o tempo.
— Mas você fica bem de óculos.
— Obrigado. E sua prima, ela mora lá ainda?
— Ainda mora, trabalha em um consultório de advocacia e estuda Direito à noite.
— Legal, e você? Morando em nossa bela capital ecológica agora?
— Já faz cinco anos, acabei de passar duas semanas em Cascavel, estou aqui esperando meu namorado vim me buscar, mas como sempre ele está atrasado... e você?
Balde de água fria a parte, um instante de silêncio e lá vai:
— Bem, bem eu, eu também estou morando aqui, terceiro ano de faculdade e trabalhando.
— Que bom, aqui é bem melhor, amo essa cidade, clima, lugares, apesar de o povo ser bem fechado, não acha?
— Acho sim, bem melhor que nossa cidadezinha do interior.
— Meu namorado está vindo ali, então já vou indo. Adorei te reencontrar, como te disse, fica muito bem de óculos!
— Obrigado, também gostei de te rever.
— Então ok, até uma próxima e se cuida!
— Você também!
Tchau!
Tchau!
Sebastian sai meio desconsolado e frustrado, mas o que queria? Que após quinze anos ela pulasse em seus braços gritando bem alto que tinha esperado por ele todo esse tempo? Riu um pouco, comprou sua coca-cola de cada dia na lanchonete e foi em direção ao tubo do outro lado da rua pegar seu ônibus. Enquanto isso o namorado de Jaqueline perguntava a ela:
— Quem era aquele cara com você?
— Estudei com ele no mesmo colégio na quarta série, nem me lembrava dele.
— Legal.
— Nossa! Como sou desleixada! Esqueci de perguntar qual era mesmo o nome dele.........

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