quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Amor na Filosofia Existencialista


SARTRE: Simone, donde tanto gosto pelo nebuloso, já que o equidistante não alcançamos com a ponta dos dedos, já que na razão hão há lugar para o medo, já que a solução não está no primeiro parágrafo do livro dos segredos?

SIMONE: Não, Sartre, não há motivo para tal dúvida, posto que o que te perturba é a certeza, pois a tua miopia é a tua própria cegueira, já que não tens o olhar que direciona o aonde ir, já que o quer tu vês é tudo aquilo que mais ninguém quer olhar, por onde ninguém mais quer caminhar.

SARTRE: Mas, Simone, se olho e já não vejo, como será me encaminhar não mais para o teus ouvidos, mas para a tua boca e nela o beijo? Como dizer-te algo mais se as minhas palavras mutaram em arremedo daquilo que outrora eu dizia e que além do espanto causava medo, aquilo que atentava o demônio e aos anjos causavam ânsias de saltar do céu que às vezes é degredo?

SIMONE: Faz-me rir, meu doce e problemático filósofo. A tua tristeza mesmo forçada ainda teima em ser bela. Embora Carolina já nem esteja mais te esperando na janela, embora o teu lamento esteja um tanto fora de hora, embora para a tua senilidade haja apenas meu colo como esteira para a tua saudade, não tarde, pois quem sabe faz a hora.

SARTRE: Ó Simone, Simone de tantos porres, Simone de tantos goles, Simone de tantos gozos, o que tu dizes só aumenta o meu desconsolo, pois não me interessa mais teu colo ossudo, nem teus lábios moles, antes carnudos, nem teus seios mirrados, nem teu ventre fartamente usado. De ti só quero a fala, minha cara, a tua fala que flecha o meu anseio juvenil, a tua fala que me arrebata o peito vadio, a tua fala que cala a minha fala.

SIMONE: Se é minha fala que a ti interessa, antes que eu prossiga nela, posso fazer uma breve menção ao teu falo, então? Não, não falo-ei, pois ele agora dorme em falácias fáceis faroleiras, aliás, deve estar machucado de poeira, pois quase não fala não.Concluída essa breve intervenção, fico feliz que tu te felicites com a minha fala, pois mais que isso falo não.

SARTRE: Ah, Simone, quanta maldade a sua. Pois te esqueces que fui eu que fiz a mim mesmo, depois de mim, tu te assomaste a esmo na tua própria bravura. Se agora resta de mim esse pensador caolho, não podes auferir a ti mesmo essa derrocada, porque, tu foste apenas uma e talvez a derradeira, de todas as mulheres a que me dei e que me deram razão à carreira.

SIMONE: É hora de dar cabo a esse whisky, pois nosso papo já está virando disse-me-disse. Para concluir essa trajetória que toma rumos de tango, fale-me acerca da virtude dos orangotangos.

SARTRE: Sobre tal virtude, pouco tenho a declarar. Parece-me que eles continuam a dar vazão à sua sanha espetacular: bater, beijar, currar, beliscar, morder, lamber, acometer, mas tudo isso sem se submeter ao amar.

SIMONE: Putz!

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