segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Carta aos meus


Em dias normais, todas as coisas ficam mais fáceis de serem suportadas, as pessoas, as situações, os horários, a rotina que nos consome insaciavelmente, tudo. Nós, os eleitos pelo acaso, vestimos nossas mascaras de bons moços, que combinam perfeitamente com nossos uniformes de trabalhadores honestos, seja qual for o serviço, levantamos diariamente e tomamos nossos cafés, fumamos nossos cigarros próximos as nossas janelas, assistimos mais um dia que começa a se repetir. Ao sair de nossos refúgios encontramos os mesmos rostos que fazem sempre as mesmas coisas. Isso mesmo, porque o que eles fazem é apenas sobreviver, rastejar incansavelmente pelos longos dias que se passam, sem saber ao certo o que realmente está acontecendo, sem se questionarem qual a razão de estarem fazendo tudo isso, eles acordam, trabalham, almoçam, voltam para suas esposas, esposas essas que um dia foram desejáveis, porem hoje se tornaram algo tão nojento quanto a comida que elas preparam com toda indiferença do mundo para esperar o porco que virou aquele homem para o qual um dia, no auge de suas juventudes, elas se entregaram. Todos andando diariamente como formigas, agindo como cães nojentos completamente irracionais, doutrinados por uma cultura de consumo e futilidade, criam seus filhos egoístas e idiotas para um dia substituí-los, para fazerem exatamente o que eles fazem hoje, sujar o mundo com sua presença inútil e asquerosa. Nós , aqueles os quais foram amaldiçoados pelo destino, cada dia somos bombardeados por assuntos inúteis, por vozes insuportáveis, por gestos desprezíveis vindo de pessoas que estão erradas só pelo fato de existirem, e resistimos a tudo, com nossos sorrisos hipócritas acenamos a todos aqueles que de alguma maneira entraram em nossas vidas, aqueles que eu chamo de marionetes necessárias, temos que suportá-los e fingir interesse e amizade pois um dia poderão ser úteis para conosco, apesar da total insignificância moral e racional, seres assim sempre acabam sendo úteis quando nossos interesses estão relacionados a coisas mundanas. Às vezes somos quase que conquistados por algum tipo desses, alguma forma de vida inocente, ignorante, desprovida de qualquer tipo de cultura ou de evolução racional, incapaz de pensar por si só. Apesar de tantos defeitos algo acaba nos atraindo, fazendo com que nós flertemos com aquilo que tanto vende e tanto faz lucrar, aquilo que eles, os comuns, chamam de amor. Há também o tipo que eu classifico como parasita moral, aquele comum que tenta se desprender das correntes da ilusão e se juntar a nós que estamos fora da caverna, tais seres lutam constantemente contra si mesmos, constroem seus alicerceis morais baseados em nós, os pinkfloydianos, copiam cada gesto nosso, cada ato, tentam desesperadamente parecerem conosco, serem aceitos entre nós, porém não conseguem, como disse antes nascemos assim, somos abençoados e amaldiçoados no dia de nossos nascimentos, e esses parasitas que tentam andar entre os grandes só irão desencadear um circulo de dor e sofrimento para com eles mesmos, pois ,alguns de nós, já chegamos a um ponto onde nada mais nos é interessante e prazeroso, a única coisa que nos resta é esperar a morte assistindo ao sofrimento alheio, mas em algumas situações também gostamos de quebrar nossas rotinas, descemos de nossos castelos, saímos de nossas muralhas para “brincar” com aqueles que ousam bater em nossas portas, sabemos exatamente onde começar, onde irá doer mais, onde o nosso prazer será retardado por mais e mais tempo, até enjoarmos e descartarmos tal “brinquedo”, assim voltamos as nossas fortalezas solitárias a espera de um novo “brinquedo” aparecer. O mais interessante é que eles acham que nos conhecem, que sabem sobre nós, sobre o que fazemos ou deixamos de fazer, mas não conhecem nem a ponta do iceberg, o pior, eles não conhecem nem os comuns que andam com eles, o mais interessante é que eles mesmos se destroem muitas e muitas vezes, não é necessário nem nossa intervenção, seu patético orgulhinho ferido, principalmente no caso das fêmeas, seu medo da solidão, pavor do futuro, incapacidade de adaptação a qualquer tipo de situação diferente, e varias outras coisas, não precisamos fazer nada, às vezes apenas um olhar lançado entre a multidão já é o suficiente para fazer com que eles mesmos comecem uma guerra entre si, outras vezes um telefonema é capaz de trazer alguém do passado até a porta de nossas casas pelo único gosto da vingança, do troco, é muito fácil para nós brincar, de tão fácil que é chegamos a desistir da brincadeira antes que ela comece, não vale a pena se mexer por pouca diversão. Em dias normais tudo isso acontece, tudo isso se forma, eles estão sempre procurando por algo que nem sabem o que é, enquanto nós não procuramos por nada, pois conhecemos nossas verdades, construímos nossos alicerceis morais e éticos, não precisamos formar mais nada, ao contrario, às vezes pelo único prazer da “sacanagem” precisamos samear o caos, só para sair da rotina, mas só fazemos isso quando vemos que realmente valerá a pena, nosso equilíbrio moral não merece ser quebrado a troco de pouca coisa, estamos no alto e de lá é melhor assistir do que participar.

3 comentários:

@ingasl disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
@ingasl disse...

"eu gosto é do estrago!"

Satiko disse...

Eu realmente espero que o comentario seja a altura do texto,pelo menos vou tentar.
Não concordo é claro com a generalização,mas com certeza grande parte se não quase que tota da população se desvinculou dos detalhes responsáveis pela verdadeira felicidade e se deixaram levar pelo cotidiano,porém desde o surgimento da Terra,o planeta e os seres que aqui habitam,vem sofrendo constantes transformações..o que me leva a acreditar que nada nunca está totalmente perdido.
;* bjos Garota.bom